As portas de 2013 se fecham sob a promessa do presidente da Câmara, Henrique Alves, de abrir, mais uma vez, as sublinhadas e desgastadas páginas do livro da reforma política. Depois de recorrentes tentativas, ao longo das últimas décadas, para se por um fim ao conservadorismo ortodoxo que inspira a vida pública e que explica a razão pela qual a política deixou de ser missão para ser profissão, acreditar que as práticas nessa frente poderão mudar é a confissão de fé de que Deus, ufa, decidiu tirar férias por aqui e ajudar o país a pavimentar o terreno da razão. Deixando de lado os insondáveis desígnios do Senhor, é possível apostar uma quantia, mesmo mínima, na mega sena política de 2014, tendo como base as derrotas em série que marcam a atividade política em matéria de reforma de costumes. A lei das probabilidades acolhe a hipótese de que ganhos são possíveis após sucessivas derrotas. Ademais, temas que, outrora, seriam inimagináveis passar pelo crivo de quadros fundamentalmente preocupados com a preservação de seu poder, começam a ser palatáveis, como é o caso do voto facultativo. O surgimento de novos pólos de poder na sociedade, a partir da multiplicação de entidades de intermediação social, reforça a necessidade de acabar com a obrigatoriedade de votar.
"O voto facultativo deverá ser testado. Haverá oportunistas? Sim. Figuras e figurões poderão usar a arma do bolso para convencer eleitores do fundão do país. E, dessa forma, plasmar um voto ‘falcatruativo’".